Seca no Jacuí gera prejuízos à população e à biodiversidade
Falta de chuvas tem afetado todo o Rio Grande do Sul. Rio Jacuí segue em nível muito baixo.
Por Thays Silva 03/01/2022 - 16h59

Há pelo menos três anos a estiagem se repete na região de Cachoeira do Sul durante o verão. O fenômeno seca pode ser considerado comum, mas episódios repetidos podem afetar diretamente na saúde das riquezas naturais.
A situação do rio Jacuí é semelhante à do rio Botucaraí em março de 2020. Lá a situação também era grave e a água praticamente não corria.

Captamos imagens de três rios: o principal deles, Jacuí, e os afluentes Capané e Botucaraí. Em todos eles a corrente de água é bastante reduzida. Há pelos dois meses o nível permanece nesta situação.
Segundo o professor Fernando Bernal, a ação do homem nos recursos naturais influencia no desequilíbrio da biodiversidade e tudo isso se agrava com a seca. Um exemplo é a piracema, período de reprodução dos peixes. Os peixes não conseguem ultrapassar a barragem diante do nível baixo e assim a propagação da espécie fica comprometida.
“Quando nós temos seca, nós temos uma interferência muito grande no futuro das espécies que comporão a biodiversidade do rio. Então, assim como os sistemas naturais vão sofrer bastante impacto com a falta de água nos arroios e afluentes, temos que nos preocupar muito com a saúde dos banhados. É nos banhados que o processo de geração de vida no rio começa. E nós temos ainda um sistema elétrico construído em cima de barramentos, que não levam em consideração a subida dos peixes. Isso é um fator que, ao longo do tempo, foi mudando a dinâmica das espécies porque as que demandam grande fluxo para nadar contra a correnteza e fazer a desova, não conseguem”, explica.
A estiagem também abala no desenho geográfico dos rios. As margens começam a ser comprometidas com o direcionamento das águas e isso, aos poucos, vai influenciando no curso desses rios.

“Nós temos três tipos de margem usuais no rio. As retas nós consideramos como neutras, ou seja, a pressão da água nas laterais e ela praticamente não causa dano. Existem as margens construtivas, que ocorrem no lado oposto onde o rio bate. Quando ele bate na margem, ele corrói, desmancha e atira o material pro outro lado. A margem que recebe o material, areia principalmente, se torna uma margem construtiva, vai aumentando de tamanho. Já a que recebe o impacto da água é a margem destrutiva. Então a geografia do rio muda ao longo dos anos em função das pressões exercidas pela variação de seca e inundação”, explica Bernal.
O resultado disso tudo é o domínio das espécies mais resistentes as variações climáticas. No Capané e Botucaraí, por exemplo, o fluxo de peixes é praticamente inexistente. Apenas pequenos cardumes são visualizados em um rio que pode atender bem mais espécies. O uso excessivo dos recursos naturais também contribuiu negativamente. Bernal é crítico a isso, entendendo que no Rio Grande do Sul chove cerca de 1.800 milímetros no ano, quantia necessária para reservatórios artificias.
“Isso é o equivalente a uma coluna de água de 1,8 m por ano. Nós somos incompetentes na reservação de água. Todos os sistemas artificiais que demandam de água, deveriam estar garantindo suas demandas a partir da água que conseguissem acumular artificialmente e não em cima de um recurso natural”, questiona o professor.
A Secretaria Estadual da Agricultura Pecuária e Desenvolvimento Rural convocou para esta segunda-feira (3) uma reunião com a Defesa Civil e Emater para debater a seca que assola o território gaúcho. 48 municípios já decretaram situação de emergência por conta dos prejuízos ocasionados pela falta de chuva.
Em Cachoeira do Sul o assunto é tratado de perto pelo poder público. Contatos com as entidades estão sendo feitos para novas atualizações.
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